segunda-feira, 27 de junho de 2011

Escritora Martha Medeiros




 A VOZ DO SILÊNCIO

 "Pior do que a voz que cala,
 é um silêncio que fala.

 Simples, rápido! E quanta força!

 Imediatamente me veio à cabeça situações
 em que o silêncio me disse verdades terríveis,
 pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
 Um telefone mudo. 

 Um e-mail que não chega.
 Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

 Silêncios que falam sobre desinteresse,
 esquecimento, recusas.

 Quantas coisas são ditas na quietude,
 depois de uma discussão.
 O perdão não vem, nem um beijo,
 nem uma gargalhada
 para acabar com o clima de tensão.

 Só ele permanece imutável,
 o silêncio, a ante-sala do fim.

 É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
 que a gente não quer ouvir,
 pois ao menos as palavras que são ditas
 indicam uma tentativa de entendimento.

 Cordas vocais em funcionamento
 articulam argumentos,
 expõem suas queixas, jogam limpo.
 Já o silêncio arquiteta planos
 que não são compartilhados.
 Quando nada é dito, nada fica combinado.

 Quantas vezes, numa discussão histérica,
 ouvimos um dos dois gritar:
 "Diz alguma coisa, mas não fica
 aí parado me olhando!"

 É o silêncio de um, mandando más notícias
 para o desespero do outro.

 É claro que há muitas situações
 em que o silêncio é bem-vindo.
 Para um cara que trabalha
 com uma britadeira na rua,
 o silêncio é um bálsamo.
 Para a professora de uma creche,
 o silêncio é um presente.
 Para os seguranças de um show de rock,
 o silêncio é um sonho.

 Mesmo no amor,
 quando a relação é sólida e madura,
 o silêncio a dois não incomoda,
 pois é o silêncio da paz.
 

 O único silêncio que perturba,
 é aquele que fala.

 E fala alto.

 É quando ninguém bate à nossa porta,
 não há emails na caixa de entrada
 não há recados na secretária eletrônica
 e mesmo assim, você entende a mensagem." 

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